domingo, 5 de abril de 2009

A distancia entre os trilhos


Por Paulo Coelho

Certa vez, quando esperava minha editora polonenesa em uma estação de treme não tinha nada para fazer, fiquei imaginando qual seria a distância entre os trilhos. Resolvi perguntar a um funcionário da estação"Distam 143,5 cm".
Achei a resposta estranhissima e absurda. O lógico seria 150 centímetros ou algum numero redondo, claro, fácil de lembra pelos construtores e empregados.
"E por quê?, insistir.
"Porque as rodas dos vagões tem esta medida.
"Mas as rodas dos vagões são assim por causa da distância entre os trilhos, não acha?".
"As coisas são assim porque são assim".
Sem saber, parte de um dos meus livros (O Zahir) estava sendo gerada ali; até onde as coisa são porque são? Resolvi procurar a resposta, sem qualquer esperança de encontrá-la. Para minha surpresa, achei mais de 2000 páginas dedicas a um assunto. Uma das explicações mais interessantes - e mais simbólicas - e a seguinte:
No início, quando contruiram os primeiros vagões de trem, usaram a mesma ferramentas utilizadas na construção de carruagens. Porque as carruagens tinha esta distância entre as roda? Porque as antigas estradas forma feita para esta medida.
Quem decidiu que as estradas deviam ser feita nesta medida? E ai voltamos ao passado distante: os romanos, grade construtores de estradas, decidiram isso.
Qual a razão? Os carros de guerra eram conduzidos por dois cavalos e, aos serem colocados lado a lado os animais da raça que usavam naquela época, eles ocupavam 143,5.
Desta maneira, a distância entre os trilhos usados por moderníssimos trens de alta velocidade foi determinada pelos romanos.
Quando os imigrantes foram para os Estados Unidos construírem ferrovias, não se perguntaram se seria melhor modificar a largura e continuaram com mesmo padrão. Isto chegou a afretar até a construção dos ónibus espaciais: os engenheiros americanos achavam que os tanques de combustível deveriam ser mais largos, mais eles eram fabricados em Utah e seriam transportados por trens até o Centro espacial da Florida, e os túneis não comportavam algo diferente.
Conclusão: tiveram que se resignar ao que os romanos haviam decidido como medida ideal.
Descobri, também, que para complicar ainda mais a vida de todo mundo, países vizinhos usam bitolas diferentes. Assim, um trem precisa para na fronteira, troca todo o carregamento para outro ( embora a França use 1,43, a Espanha utiliza uma bitola 1,67m).
Meu avô, que era engenheiro das Estradas de Ferro Central do Brasil, contava que no Brasil acontecia a mesma coisa. Fui conferir na Internet, e ele esta certo: temos quatro medidas diferentes: a francesa, a espanhola, 25 mil Km com bitola de 1m (não entendi!) e alguns Km 0,76 cm de distância entre os trilhos.
E o que isso tem a ver com a vida? Tudo. Em dado momento da história, alguém apareceu e disse: vocês precisam se comportar assim. Não importa se isso foi em um passado remoto, sabemos que os romanos decidiram o tamanho da estradas, muitas coisas em nossas vidas precisam ser mudadas, mas não temos coragem.
Até que a tenhamos, precisaremos continuar sorrindo nas fotos, jurando amor eterno, achando que a universidade é a meta de todos, continuar variando de moda de moda a cada estação e tendo esta incrível dificuldade em fazer com que nosso trem de vida trafegue em lugares onde a medida de valores é diferente.

www.paulocolelho.com.br

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